Estou a chocar alguma!

Este blog vai chocar com várias raças, religiões, regiões, bairros, sexo, credos e até com ele mesmo. O objectivo é divertir todos, perceber que as diferenças só deverão servir para nos aproximar. Quem se ofender... bem, temos pena!

sábado, 30 de junho de 2007

Telemóvel

Os telemóveis em Angola dão material para escrever aqui no blog durante semanas. Mas uma coisa me irrita. A maneira de dizerem os números de telefone e não compreenderem quando eu digo à minha maneira.
Eu, como qualquer pessoa normal (excepto o Pedro Santos, que também não é muito normal), digo primeiro o indicativo do operador, seguido dos primeiros 3 números, seguido dos outros 2 números e finalmente os últimos 2.
Qualquer coisa como:
92 .... 623..... 18... 07

Até entendo que o pessoal nas nossas províncias, como os Açores devido ao indicativo ter 3 números digam:
255 ..... 21.......32...... 31

Agora dizerem (como o Pedro Santos diz) uma Angolanada tipo:
9....2....62......3180........7

É mais uma coisa da lógica Angolana. Isto é pior que a atribuição de números de ruas aqui no Projecto Nova Vida.
E lembrem-se que se não dissermos desta maneira, eles ficam a repetir o número e enganam-se a escrever, porque pensam que estamos a repetir várias vezes.

Cacimbo

Acabadinho de chegar a Angola, depara-mo com o Cacimbo. É o Inverno! O Cacimbo em Angola é horrível. A temperatura média é 27 graus de máxima e 23 de mínima. Não chove. E sobretudo não há aquela nortada insuportável que senti aí na última semana.
Mais uma vez, fui directo do aeroporto para o local de gravação: uma praia. Assim que cheguei à praia vesti os meus calções, porque estava com calor. Para grande espanto meu, as senhoras da produção, cada uma acima dos seus 100 kg de peso (ou seja com uma boa camada adiposa) enroladas em toalhas e mantas, a tiritar de frio. Os meus colegas começam a chegar com camisolas de lã de gola alta. O segurança está com um blusão de penas!
É que este tipo de frio entra nos ossos. É aquele frio quente! Que se pode estar de calções e t-shirt, sem estar com frio.
É o começo das Angolanadas! Já estava com saudades disto.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Gaffes em Angola II


Numa festa de anos, numa casa particular estávamos a ver um jogo do Benfica e a beber umas cervejas. O jogo está a acabar e para variar o Benfica empatado. Isto signigfica que já se tinha bebido algumas cervejas e os espíritos estavam a roçar a euforia. De repente o Simão faz uma angolanada (ou seja, merda!). E de repente e espontaneamente grito: "Preto de merda" ao Simão. Eu continuo a achar que é lagarto e não gosto dele, apesar de reconhecer que infelizmente é o único jogador no Glorioso que consegue dar mais de 4 toques seguidos na bola.

Nunca mais fui convidado para nenhuma festa de anos!

Para que não haja dúvidas, a foto ao lado é do Simão, quando venceram o Benfica em 1994 e ele marcou 2 golos e foi decisivo.

E tenho de confessar. Depois de ver a atitude dele com aquele cabelo, subiu na minha consideração.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Ser Angolano é...




... lavar o carro todos os dias. Sim, todos os dias.
... engraxar os sapatos todos os dias à porta do trabalho.
...estar sempre a pensar na próxima refeição
...a cada refeição comer o melhor primeiro. Não se sabe o que vai acontecer nos próximos 15 segundos.
...não ter noção geo-temporal. Uma semana, é uma vida. “Sumbe, fica a 15 km daqui. Um instantinho!” – Fica a 400 km e várias horas de distância.
...nunca chorar, pois isso não põe comida na boca (nunca vi um bébé angolano chorar)
...falar dos problemas ao telefone em voz muito alta. Apanhei uma mulher no escritório aos gritos: “não vou, porque estou com diarreia, mano”.
...ter três carros e cada um precisa sempre de um empurrão para pegar, mas como se tem mais status possuir vários chanatos em vez de um carro que ande...
...carregar o bebé às costas tipo mochila (grande invenção e relembro que os putos nunca choram)
...carregar bilhas de gás cheias na cabeça de um lado para o outro
...deslocar-se km a pé para ir buscar água, todos os dias
... ao conduzir, insultar constantemente os outros condutores e pessoas
...no trânsito tentar ultrapassar tudo e todos, pelas bermas, subindo passeios, em contra-mão atirando os carros que vêm em direcção contrária para a berma
...ter um telemóvel de última geração 3G, apesar dos operadores existentes ainda não suportarem essa tecnologia.
...ter o telemóvel roubado de 15 em 15 dias.
...mudar a música do telemóvel todas as semanas e quando recebem a chamada deixam tocar durante 1 minuto para mostrar a todos que têm uma música nova, mesmo que percam a chamada.
...estar bem com a vida
...ser feliz!

Tudo isto porque está ainda incutido e de uma forma muito forte um espírito de sobrevivência. O instinto é fortíssimo. O que interessa é o agora. Nem o hoje é considerado. Estes gajos levam à risca o lema da Vodafone. Vivem o momento.

domingo, 24 de junho de 2007

Nova profissão

Neste momento tenho mais um profissão para colocar no CV. Depois de lavar chávenas no Mabuba, servir bicas, promotor (AKA Luva Man) para a TV cabo na região da Damaia, atleta, analista de mercado, gestor de produto, especialista corporate, vendedor de automóveis, modelo, actor, entregador de flyers (isto já com 31 anos) à porta do cinema do Oeiras Park agora tenho mais uma profissão.


Sou empresário! E ser empresário é muito mais que constituir uma empresa. É poder dizer-se que se é empresário. E tudo isto pela módica quantia de 380 Eur. Acreditem que vale a pena. Tudo é fácil agora com o sistema empresa na hora. A única questão é que temos de escolher o nome da empresa de uma lista já feita por eles. E os nomes são extremamente criativos. Fizemos a seguinte shortlist:

Fada do canavial, Gostos exuberantes, Sobre a Marginal, Mimoso & Fabuloso, Mistura exótica, Prove e aprove, Coma mais.


O nome da empresa escolhido? O óbvio: Mimoso & Fabuloso, Lda.


Brevemente consultem a nossa página em http://www.mimosoefabuloso.pt/, onde vamos explicar as ramificações e áreas de actividade que a nossa empresa se dedica.

Muitos estarão a perguntar, porquê Mimoso & Fabuloso. Nós respondemos: Porque não? A nossa questão e primeira discussão entre os sócios é saber quem é o Mimoso e quem é o Fabuloso. Ambos queremos ser o Mimoso. Se quiserem comentar a ajudar, agradecemos.

Gaffes em Angola

A primeira grande gaffe que cometi em Angola foi apenas 2 dias depois de ter chegado. Estava no set de gravação, que é uma esplanada na praia. Estava sentado à mesa com outros actores e não nos podiamos levantar porque estavam a fazer a luz. Pedi à produção que trouxesse água para todos. O assistente de produção serve todos menos a mim. Sim! Saíu-me a clássica: "E eu? Sou preto ou quê?"

Depois de me aperceber do erro, tentei disfarçar dizendo: "como sou o único branco... han?? perceberam?" Acho que não perceberam. Continuei sem água!

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Gasosa II

Frase de entrada nas instalações da polícia em Angola: “A polícia é como uma árvore cuja sombra protectora se projecta sobre a população. Se a sombra for amena, os cidadãos vão se acolher debaixo dela, e vão sentir-se protegidos.”

A polícia é a maior privilegiada nestas questões gasosas. É frequente pararem carros com brancos e implicarem com qualquer coisa. A técnica é simples. Como não pagámos gasosa na direcção geral de viação, os livretes demoram 3 anos a chegar e então temos umas fotocópias de uns certificados provisórios que podemos conduzir. Temos fotocópias, porque os certificados originais estão no notário para reconhecer (como não pagámos gasosa, demoram 1 ano e meio). Então as fotocópias não são válidas. Ou então a nossa carta não é válida porque não está escrita em português (sim, já me aconteceu também). O policia guarda os documentos no seu bolso e vai mandar parar outra viatura com brancos.
Normalmente como os brancos têm pressa e como vocês já sabem, os angolanos têm outro ritmo, o polícia joga com isso. Quanto mais pressa tivermos, maior vai ser a gasosa que teremos que pagar.
Eu já desenvolvi uma contra-técnica, que é o conjunto de várias técnicas que muitos tugas usam por aqui, e que tem resultado. Depois do agente guardar os documentos eu digo que fui assaltado há pouco e que me levaram todo o dinheiro. Agradeço ele ter-me parado e peço-lhe ajuda para irmos atrás dos assaltantes. E finalmente pego num livro, revista ou textos para decorar e fico a ler pacientemente. Assim que ele percebe que eu não tenho dinheiro, tenho tempo e ainda lhe posso dar trabalho a ir atrás de assaltantes, ele deixa-me ir.
Mas isto nem sempre funciona. Um dos meus melhores amigos aqui, um sul africano branco de origem germânica, aspecto ariano já foi preso 2 vezes. Na primeira, pediram-lhe a identificação e queando ele mostra o passaporte, acusaram-no de falsificar o documento de identificação. Ficou preso 1 dia e pagou 500 USD de gasosa. A segunda foi quando lhe pediram a identificação e ele não tinha o passaporte e prenderam-no por não estar identificado. Ficou preso umas horas e pagou 200 USD de gasosa. Compensa não andar identificado.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Reportagens em Angola - Continuação do post mais abaixo

Imaginem uma reportagem sobre um Jipe da Polícia que explodiu por causa de uma mina, colocada claro pela UNITA. Imaginem que os repórteres chegaram antes da ambulância. Imaginem que os dois polícias que iam nos lugares da frente morreram porque a ambulância não chegava. Imaginem que o único sobrevivente foi o prisioneiro que ia no banco de trás. Imaginem que os repórteres entrevistam o prisioneiro deitado no que resta do carro, com bocados dos corpos dos polícias ainda no banco da frente. Imaginem o prisioneiro, deitado no banco de trás, com ferimentos e a tentar estancar o sangue de algumas feridas no peito, a contar o acidente. Imaginem toda uma naturalidade em volta desta situação como se estivessem a pedir para comentar o jogo do dia anterior entre o Petro e o 1º de Agosto.

Quem faz Televisão em Angola...

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Humor em Angola

Para ajudar ainda mais aumentar a minha insegurança humorística, eu que pensava que era pioneiro a gozar com outras raças e mais uma vez os Angolanos me ultrapassaram. Existe em Angola uma sitcom, que passa já há alguns anos chamada “Conversas no quintal”. Um dos muitos episódios que vi, entra o preto mais retinto da África sub-sahariana, disfarçado de chinês, com a cara cheia de farinha (de milho para ser amarelo). A única personagem que percebe que ele está disfarçado é a astuta criada que mal o vê diz: “o que estás a fazer disfarçado e mais branco que o Micau Jacsom?” Risos incontroláveis na plateia. Mais nenhuma personagem percebeu este brilhante disfarce. E a certa altura não é que os angolanos trazem um chinoca verdadeiro, com um ar desgraçado, para a frente das câmaras. Este chinoca que não sabia português e nunca devia ter estado num set de gravação na vida. Olhou várias vezes para a câmara e como não percebia nada, andava a ser empurrado pelos outros actores para sair da marca deles. Ou seja, basicamente o programa foi trazer um "chung" para o set para enxovalhar ao máximo os chineses.
Mais, os angolanos desenvolveram um novo tipo de humor. Se nos Estados Unidos agora está muito na moda o “Unintentional Comedy” onde grandes humoristas como David Hasselhof e Chuck Norris fazem um sucesso desmedido com as suas performances nos anos 80 e em Portugal agora os Gato Fedorento fazem furor com o Nonsense, em Angola estão ainda mais à frente.
Exemplos de situações humorísticas, das “Conversas de quintal”: A criada de casa chega à sala e pergunta à senhora: “Falou com o Sr. Gervásio sobre o meu salário?” A senhora fingindo atrapalhação, responde “ah, pois é!!” Risos descontrolados na plateia (pré gravados, obviamente)!! Noutra situação das mais hilariantes foi quando o jardineiro, completamente fora do contexto do episódio e da cena se vira para a criada e diz: “eu quero é a minha garrafa de whisky!”. Risos gerais. Inicialmente pensei que fosse eu que estava fora do contexto da série. Mas acreditem que não perco um episódio.
Mais uma vez Angola supera Portugal. Estão os Gato Fedorento ainda com Nonsense e estes gajos já partem a louça toda há anos com o absurdo.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Televisão em Angola

Volto a repetir: quem faz Televisão em Angola faz em qualquer lado do mundo. Até porque eu tenho experiência de fazer TV em todo o mundo.
Não acreditam nas dificuldades. Então imaginem que o estúdio de gravações fica no ginásio de um liceu. Imaginem a temperatura de 32 graus fora do estúdio. Agora imaginem um estúdio, sem ar condicionado com as luzes. Mas esperem, imaginem que os pivots, apresentadores, convidados, actores etc., são pretos. Precisam de muito mais luz para iluminar os rostos que os brancos. A iluminação para os pretos é muito mais complexa, exigente e essencialmente precisa de mais potência. Quanto mais luzes e mais fortes, mais quente fica o estúdio. Estúdio que tem que estar o mais fechado possível para se tentar isolar o som dos miúdos a assaltar colegas no pátio da escola e do toque de campainha. Imaginem agora a temperatura dentro do ginásio! Imaginem que a energia falha de hora a hora e fica tudo escuro. Imaginem fazer directos nestas condições. Imaginem um pivot do Telejornal com um ar agressivo com a testa toda suada. Imaginem que só vêm a testa do pivot porque ele não tem teleponto e está sempre a ler (muito devagar) as folhas que tem em cima da mesa e raramente consegue olhar para a câmara. Imaginem o que é fazer um programa infantil com 30 pretitos descontrolados neste ambiente. Imaginem o que é fazer um programa de actividades radicais para jovens onde o apresentador tem 68 anos (o gajo mais velho de angola depois mãe do Presidente), e não pode ser substituído devido a cunhas. Imaginem uma censura que obriga a que tudo o que fala de e sobre Angola tem que ser positivo.
Não conseguem imaginar? Venham a Angola fazer Televisão!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Engarrafar

Já sabemos que os Angolanos adoram gasosa e por isso a única indústria em Angola são fábricas de engarrafar e enlatar a gasosa. Para além disso o angolano é especialista em engarrafar trânsito. Os engarrafamentos aqui são constantes. Há histórias de engarrafamentos épicos de 7 e 8 horas, em dias de chuva, quando às 2h da manhã demoramos 15 minutos. Eu não acreditava. Até ver os engarrafamentos normais de hora de ponta, onde vemos as pessoas a andar a pé mais depressa que nós, no carro (branco não anda a pé!!).
Numa estrada de terra alternativa, há um local que forma uma fila que pode demorar 10 minutos a passar com o tráfego normal daquela hora, porque há um buraco “crateroso”. Mas há sempre um ou mais angolanos que não querem esperar 10 minutos e ultrapassam pela direita. Quando chegam à frente tentam meter-se à cigano (esta comparação é só para poder achincalhar várias raças num único post), há carros que não deixam e o trânsito começa a afunilar e a andar mais devagar. Então outros tentam ir pela esquerda. De repente temos 5 faixas onde normalmente só temos 1. Os carros que vêm em sentido contrário têm a sua via obstruída e tentam passar o buraco pela faixa de rodagem contrária. A certa altura, não dá para perceber se se conduz pela direita ou pela esquerda porque há carros a tentar andar em todas as direcções e sentidos. Felizmente para compensar a situação, os Angolanos são dotados de um grande sentido cívico. Ninguém deixa passar ninguém. Nem mesmo para que ele possa passar a seguir. É a mesma demonstração de civismo que têm quando não param nas passadeiras e ainda gritam com o transeunte: “queres morrer, oh filho da puta?”
Resultado final. Saída de casa às 10 horas da manhã. Chegada o destino às 14 horas, num carro sem ar condicionado e 32ºC. (normalmente demoramos menos de 1 hora quando saímos entre as 8h30 e as 10h30.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Conduzir em angola

10 Regras/conhecimentos básicos para conduzir em Angola:


  1. As estradas principais têm 2 vias, em alcatrão com muito buraco. Ao lado é terra, lama quando chove, lixo, água, pessoas, etc. No alcatrão há engarrafamento e consequentemente uma estrada de 2 vias fica normalmente com 4, tudo bem apertadinho.

  2. Andar sempre pela esquerda e ultrapassar os camiões, que andam sempre pela esquerda, pela direita. Isto porque a polícia tem mais dificuldade parar carros que vão no meio.

  3. A questão validade das cartas angolanas em Portugal é muito debatida aqui. Foi mais uma razão para odiar os tugas. Mas compreensível aí na “tuga”. Poucos aqui têm carta e destas, muitas são recebidas em troco de ... sim, adivinharam: Gasosa! Poucos sabem conduzir.

  4. Os candongueiros (ver foto ao lado), que são os autocarros daqui, andam pela direita e estão sempre a parar para recolher ou deixar passageiros. E depois metem-se à maluca. Esta é a razão porque nós, os brancos, e os camionistas andamos pela faixa da esquerda.

  5. Sempre que vemos um polícia ligamos o limpa para brisas. Isto distrai a polícia. A primeira reacção que eles têm é olhar para o céu para verificar se está a chover. Depois começam a gozar com os brancos: “Estes pulas são mesmo burros. Vão com o limpa para brisas ligado e não está a chover. Otários!” E entretanto já passámos e não pagámos gasosa.

  6. Nunca parar numa passadeira. Se pararmos para deixar alguém uma das duas situações vai acontecer:
    a) Um carro ultrapassa-nos pela direita (lembrem-se da regra 2 – sempre pela esquerda) e mata o transeunte
    b) Um carro bate-nos por trás porque não estava à espera que alguém pare numa passadeira.

  7. Aqui não há seguros. Por isso não batam nem levem batidas de ninguém (boa regra esta, han??!)

  8. Se atropelarmos alguém, não paramos. Pelo contrário tentamos fugir pelas faixas da direita. Senão morremos.

  9. Não arrancar logo num dos 4 semáforos de Luanda, mal ficam verdes. É preciso contar até 5 porque eles depois de verem o encarnado têm 15 segundos de reacção para parar e a maior parte continua.

  10. Olhar em todos os cruzamentos que têm stop. Muitos cruzamentos têm stop em todas as vias que se vão cruzar e por isso ninguém pára (sim, lógica angolana).

domingo, 3 de junho de 2007

Gasosa

Antes de lerem mais qualquer coisa sobre Angola é preciso que tenham em mente este conceito, que é o da Gasosa.
A seguir a sexo, aquilo que os Angolanos mais pensam é na Gasosa!
A Gasosa é uma palavra multifuncional aqui em Angola.
Primeiro significado é o sentido literal e físico: Uma lata de coca-cola, fanta ou sprite. A Coca-Cola Company vende mais em Angola que em toda a Europa junta. Cada Angolano bebe no minímo 4 gasosas (latas ou garrafas) por dia. Uma a cada refeição (Mata-bicho, almoço, lanche e janta). Muitos, bebem mais de 2 a cada refeição e outras a meio da tarde. Há ainda aqueles que bebem uma para sobremesa. Finalmente antes de qualquer saída à noite bebe-se sempre 2 ou 3 gasosas antes de começar a beber os 4 litros de cerveja e meio litro de whisky, só para acamar. Ou seja, o Angolano médio bebe em média (segundo as minhas estimativas, que andei a apontar e calcular no programa estatístico SPSS) 7 gasosas por dia.
O segundo significado é a forma comparativa. “Este funge (prato típico que o Angolano adora e que é farinha com água aquecida) está melhor que gasosa” ou uma frase romântica entre namorados: “gosto mais de ti que de gasosa!”.
O terceiro sentido é o de peso e medida. Exemplo clássico: cuidado que esta mala pesa 2 grades de gasosa”; “quanto é que custa isto? – Custa 2 gasosas e meia!”.
É frequente ouvirmos os putos de rua pedirem aos brancos: “paga-me uma gasosa!” e daí deriva o melhor significado de Gasosa. Vou dar alguns exemplos:
Um polícia para um carro que infringiu ou não alguma regra de trânsito. Depois de algum tempo diz: “Eu posso deixa-lo ir, se me pagar uma gasosa!” Neste caso a gasosa é cara, custa entre 10 e 100 USD.
Querem reservar um quarto no hotel, tem de se pagar uma gasosa (tabela normal é de 150 USD por quarto) ao empregado do hotel. E acreditem que não há quartos livres.
Querem ter o visto em menos de 3 meses, paga-se uma gasosa aos empregados da embaixada e Ministério da Migração e Estrangeiros. Aqui a gasosa varia entre os 200 e os 1000 USD
Querem que o motorista da empresa onde trabalham vos venha buscar às horas combinadas, tem de pagar gasosa senão, ele “vai ficar preso no engarrafamento” e só chega 8 horas depois (sim, já me aconteceu!).
Na chegada ao aeroporto, o policia alfandegário decide questionar-nos sobre o facto da nossa escova de dentes ser encarnada. Pagamos uma gasosa e passamos tranquilos. Senão temos 4 horas de espera.
Ou seja, gasosa é um eufemismo para suborno. E está constantemente a ser utilizada.
Estas noções sobre Gasosa é importante para os textos que irão ler futuramente (sim, porque continuam interessados neste blog espectacular) e para qualquer pessoa que queira vir a Angola.